Queridos leitores,
Venho há muito tempo pensando nesse texto, mas tenho adiado porque eu queria, e quero, me entregar pra ele. Estudei sobre alguns assuntos pra poder trazer meio que uma base “teórica” extremamente pragmática (digamos assim), mas estes carrego comigo. Então venho por meio deste, apenas pra despejar meus sentimentos, minhas vivências desses dias e pensamentos que venho carregando nesse último semestre.
Minha newsletter, e os consumidores dela, devem ficar um pouco confusos, já que é uma mistura de escrita acadêmica e diário pessoal. Mas saibam que tudo é parte de mim. E essas análises que trago aqui, por mais que sejam um estudo, querendo ou não, estão presentes na minha formação pessoal/intelectual. Eu vivo, drasticamente e dramaticamente, cada linha que leio e escrevo sobre. Ou seja, estão incorporadas em mim, e a minha análise e interpretação claramente mudam de acordo com a hora e meus sentimentos. Tanto que considero importante enxergar as diferentes faces. Ler em diferentes momentos.
Já adianto que tenho sentido muita raiva e medo. E isso claramente, me faz captar mais fortemente, nas minhas leituras e interpretações, mesmo que sutilmente, óticas que compartilham, que conversam com meus sentimentos. E levo elas para discussões que quando acontecem, trazem outras interpretações que enriquecem a minha.
Mas enfim... digo que isso tudo é sobre mim. Minhas análises, minhas interpretações, minhas visões. E tudo diz muito sobre mim. Então não fiquem confusos, porque tudo está interligado. Bem-vindos de volta.
Escrevo essa newsletter, querendo ou não, como uma forma de desculpa para algumas pessoas na minha mente. Essas pessoas vão estar na minha mente por todo esse texto.
Me desculpo com elas com a desculpa de que não me vejo, que não percebo quem sou, e tento ser alguém. Alguém que eu realmente sou. Mas quanto de mim sou eu, e quanto de mim são as pessoas que me criaram? No sentido de que ainda quero ser amada, aceita, seja lá o que for. E as pessoas, pela visão de mundo delas, pela vida inteira delas até aqui, o que conta como experiência obviamente, colocam uma verdade sobre mim. E eu me mantenho nela.
Fora disso, eu escuto a música da Rita Lee nos meus ouvidos dizendo que sou a ovelha negra da família. Mas, quando na verdade, eu só sou. Eu tenho visão, vontade, antagônicas a colegas de trabalho, família, etc. Mas não no sentido de que quero viver loucamente. E, apesar de eu querer sim comer o mundo de colher, eu só quero viver da minha maneira, não alguém consolidada, seja lá o que se entende como alguém consolidada. Mas consolidar o quê, se nada do que eu quero está aqui?
Mas, o que devo a eles? Afinal… o que devemos uns aos outros?
Deixo aqui abertamente o crédito à Lívia Meinert. Em meio a esse longo questionamento de baixa, nesses seis meses de incerteza e perda (sem gostar de uma música, nenhum livro, nenhum filme), o vídeo dela apareceu pra mim no TikTok (rede social oficialmente proibida nesse site) e ela se questiona: “Afinal, o que devemos uns aos outros?” E isso ecoou na minha mente durante as últimas semanas.
Pausa pra tirar tarot.
Voltei, pós tiragem. Mas voltando: no vídeo, basicamente, Lívia se questiona o que devemos uns aos outros. E chega a conclusão que sim , nós devemos.
Ao longo do vídeo, ela dá alguns exemplos sobre a vida adulta, sobre alguns problemas, e se podemos viver uma vida sem problemas adultos. E passa na beira de um debate ético-moral. Logo, ela se questiona se essa ética e moral não seriam corrompidas, se não cederiam pro jeito “fácil” de fazer as coisas, já que fazer a coisa certa é o mais difícil a se fazer. E que, devido a esse avanço tecnológico, a facilitação do acesso à internet é responsável por trazer novas discussões. E pessoas com esse acesso têm uma certa obrigação de começar a entender, a se informar, a pensar como conviver melhor, e descobrir também o porquê de nossos pais/avós/tataravós não conseguirem se comunicar, não conseguirem se perdoar da maneira que a gente poderia.
E nós temos muito mais ferramentas pra entender de onde vêm essas angústias, sentimentos etc. E temos informações pra lidar com isso. E não cometer erros que sua família cometeu com ela. E que ela não está isenta de errar. E que vai sim errar em algum momento.
Mas enfim, ela chega à conclusão de que devemos aprender a entender sobre o que dar prioridade. E assim, devolver uns aos outros. Entender que os outros importam. Que as relações que temos uns com os outros são as coisas mais importantes que temos.
E eu concordo.
E isso me trouxe um certo consolo, ou sei lá, um argumento a favor dos meus sentimentos. Ou um novo questionamento: “o que não devemos uns aos outros?”. que, pra mim – naquele curto período de tempo, questão de segundos até passar para o próximo vídeo – tudo! menos o que devemos (o que foi dito no vídeo da Lívia).
Só o fato ser você. Mas SER você realmente. Exercer e priorizar as relações, que são obviamente uma vasta parte de nós. E acho que só por ser nós, e exercer SER nós, contribuir. Assim como pessoas ao nosso redor já nos devolvem simplesmente por SER elas. No sentido de exercer o ato de ser, e contribuir, e nos devolver algo novo – seja pra nossa existência ou para toda a existência. Mas por exercer quem ela é, seus interesses, vocações, ou algo percebido por elas e captado pela existência dela. Enfim, já nos devolve (Levando em conta todo o debate do vídeo). O resto, não devemos nada.
Logo depois, passei pra algum vídeo de fundo engraçado com frase.
Mas isso me frustrou, e ainda frustra. Como nos desfazemos dessa dívida? Que eu nem sei quando foi cobrada. Tal qual meu cartão de crédito, que sempre é creditado com algo que esqueci que assinei ou deixei logado no site, e aí minha família faz alguma compra na minha conta, e no final do mês isso vem, e eu sigo pagando religiosamente algo duvidoso na fatura. Pagando essa dívida que sempre tem que ser jogada pro próximo mês. E pagando religiosamente como se fosse eu que tivesse feito. Mas não! Não fui eu.
E o que acontece se eu não pagar essa dívida? Fico devendo algo que não é meu? Que não sou eu? Mas um preço é sempre pago, já que existe o medo de deixar de pagar.
E o que acontece se não pagar? Pegam minha casa? Meu carro? Meu aconchego? Meu amor? Validação? Conforto?
Pagamos por algo que nem é nosso totalmente. Pagamos com a nossa existência. O que parece pouca coisa, ou detalhe, ou coisa que dá pra levar e dá pra ter jogo de cintura. Isso, talvez pra validar o sentido que a pessoa encontrou pra vida dela. E pode ter certeza de que, devido à mesma situação, ela fez disso o sentido. Sabe, é muito fácil e até consolador pegar essa ideia imposta, cultural, o que for. Pra conquistar algo, já que é o que da né, pra servir de consolo, de conformismo – porque cansa – da impossibilidade de ser. Criar juízo. Ser alguém na vida.
SER? kkkk
Quem eu devo ser, então?
Deu né
Mas voltando um pouquinho, fiz minha primeira tiragem de tarot, devido a isso mesmo, essa, sei lá, crise de identidade, repensando meu caminho, e resolvi buscar uma luz no oculto.
Me lembro de ler um texto sobre uma moça que viajou para um país e visitou um dos locais que se passa um de seus livros favoritos. E, enquanto entusiasta do universo da psicologia feminina, posso estar enganada e não me lembro ao certo, mas ela relata que foi a experiência e ela passa essa experiência pra nós, leitores, e é incrível, pois ela reza, faz suas preces, sua energia para essa deusa feminina, e relata o quão incrível é, já que sempre orou para deuses masculinos.
E, quando li isso, perdida, volto a dizer, eu, como uma pessoa que já viu muitos demônios e que acredita bastante no espiritual e mesmo com um olhar cético, vamos por assim, acho enriquecedor essas percepções. Quando li isso, me fez genuinamente feliz. Esse encontro dela e o sentimento de orar para uma deusa mulher.
E então decidi que ia buscar um norte em uma consulta de tarot. Foi extremamente terapêutico, conversas e revelações, e consegui olhar onde estou. Eu tava buscando um caminho pra seguir, pra esse reencontro comigo mesma, mas eu nem sabia onde estava. E me lembro desse texto lido, porque eu me senti muito mais, do pouco que pude sentir, e foi muito, lendo esse texto.
Foi conversado sobre esse medo, essa covardia que tenho em todos os âmbitos da minha vida, e como isso se intensificou e se manifestou. E acredito que isso trouxe essa minha loucura, e me sinto ainda receosa, mesmo que eu sempre tenha sido assim. Mas, desde que dei nome aos bois, meio que não larguei e não fugi das situações que essa covardia me levou. Desde que não menti ou amenizei a situação, desde que encarei o espelho, estou nesse limbo. Seis meses! Porque quero ser mais e não tenho a coragem de largar essa dívida pra lá.
Foi uma experiência nova e fez sentido.
Agora, na semana anterior à do meu aniversário, acredito que eu consiga tomar um norte e entender, construir e criar coragem. Rejeitar esse medo que está intrínseco em mim, tanto que nem percebo ou transpareço. E seguir sendo, e buscando me desprender e exercer plenamente a minha existência, única, acredito. Ninguém sabe. E é tão curta, em relação a toda a existência,. Então temos que viver da melhor maneira, porque pessoas mudam pessoas (não para o “bem” exatamente), e toda existência só existe porque fazemos ela a partir da nossa.
Um beijo.
E ah! Vem ver quem eu sou. Não cria uma pra você não.
Feliz aniversário pra mim! se você estiver lendo isso dia 07/07!